Especialistas analisam oportunidades do mercado de carbono para o algodão

Especialistas analisam oportunidades do mercado de carbono para o algodão

17 ago 2022, por [email protected]

O Brasil precisa evoluir no tema e se adequar às metodologias internacionais

As emissões globais de Gases de Efeito Estufa (GEE) cresceram 53% nos últimos 30 anos e o CO2 representa 74% das emissões, apesar de menos nocivo que os demais. Por isso há uma preocupação de governos, especialmente europeus, com as mudanças climáticas. No âmbito internacional, China, EUA, Índia e Europa representaram a metade das emissões globais em 2019 e os dez maiores países são 65% do total. China, inclusive, possui o maior valor de emissões totais e EUA, o maior valor per capita. O Brasil é considerado o 7º maior, com 2,9% das emissões. Em termos agropecuários, os indianos e chineses são os maiores emissores, seguidos pelos brasileiros em terceiro lugar na classificação.
Esse foi o panorama apresentado pelo vice-presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, para responder à questão “O mercado de carbono é uma oportunidade para o algodão brasileiro?”. Especialistas afirmam que o Brasil ainda precisa evoluir no tema e se adequar às metodologias aceitas internacionalmente. Nesse sentido, o Governo Federal está analisando a implementação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) para regular a compra e venda de créditos de carbono no País. E o Ministério do Meio Ambiente já estabeleceu procedimentos para a elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas e o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa para atingir a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), compromisso do Brasil na COP 21. “Hoje o consumidor se preocupa com as formas de produção e os rastros que o produto vai deixar no meio ambiente para as futuras gerações. Por isso, a pegada de carbono vai ser o fator de impacto no momento da compra”, completou Schenkel.
Mas tudo isso precisa estar interligado com boas práticas agrícolas e manejo de solo. Para Cimélio Bayer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as técnicas de conservação do solo vão se refletir na produtividade das culturas e determinar o acúmulo de carbono. “O produtor que tiver assistência técnica em relação a isso conseguirá aumentar a produtividade. Se possuir amostragem do solo e construir uma boa linha base com plantio direto, vai comercializar esses créditos de carbono, obtendo ganhos em função da melhoria do manejo porque é com a qualidade do solo que se ganha dinheiro”, afirmou Bayer. Para ele, o ganho maior é agronômico e a rentabilidade é consequência que pode se transformar numa oportunidade de agregar valor aos produtos agrícolas.
Encerrando a programação da sala temática, o diretor de Negócios de Carbono da Bayer, Fábio Passos, apresentou cases de fazendas com oportunidades e ações concretas rumo ao mercado de carbono. Durante sua palestra, Passos apresentou o programa PRO Carbono da Bayer, projeto que estimula sistemas de produção na agricultura que contribuam para a redução das emissões com metodologia adequada ao clima tropical. “Trazendo para a cotonicultura, para ter um algodão melhor do que o australiano, não basta olhar a quantidade de carbono que será gerado na lavoura, mas sim o sistema de produção a ser adotado para transformar minha produção que, consequentemente, vai gerar mais créditos de carbono”, detalhou o especialista. Para isso, a Bayer faz parcerias com agricultores de todo o país e elabora planos de manejo com práticas mais sustentáveis. Segundo Passos, mais de 90% das empresas listadas em bolsas de valores têm compromisso com a redução de emissão de carbono, seguindo tendências de consumo cuja preocupação tem como pilar as questões ambientais e de sustentabilidade.